
21 setembro 2009
18 setembro 2009
Sorrir?
...já sinto o sabor amargo a fel das parcas horas que faltam para o grande dia do meu julgamento!Dois Sois vão queimar a minha carne,
Duas Luas vão dançar sobre a minha sombra,
Mas, amanhã ambos vão continuar naturalmente a sorrir!
13 setembro 2009
Sal
O sal colado ás pestanas e a areia debaixo dos pés, é um dos quadros maravilhosos que irá figurar ao longo da minha vida, como símbolo glorioso do Verão.A maresia a entrar pelas narinas, e aquele maravilhoso sabor a mar a retemperar o palato.
Viver numa simples e humilde habitação, a beira-mar, a acordar embalado pelo ritmo natural das ondas, com o lavar do rosto temperado com o ar salgado que invade toda a casa, sendo pão coberto com azeite, a regar o açúcar mascavado, escuro como uma fruta desmaiado madura, como acompanhamento de um gordo ovo estrelado, acompanhado de uma tenra salada acabada de colher e salpicada por frágeis pétalas de sal. Estou no paraíso, um muito próprio, construído pela minha mente delirante, mas perante os meus cegos olhos o pequeno vislumbre de um autêntico paraíso. As cores são ténues, a bailar entre os verdes e os azuis, desde a suavidade da penugem da folhagem de uma pálida alface, até ao azul negro do profundo do oceano, onde banho o meu corpo, numa tentativa infrutífera para curar as feridas infligidas pela sociedade.
Aquela deliciosa salada de algas verdes e vermelhas como acompanhamento de sumarentas e doces frutas da terra, pintalgada com bagos de romã e salpicada com finos cristais de sal, decoram o meio da manhã, já com o Sol de corpo inteiro a encandear o dia. Está na hora de trabalhar, produzir e criar o fruto do meu sustento, transformar e moldar o que a natureza gratuitamente nos dá num utensílio para o "Homem Merecedor" aproveitar os ciclos naturais do mundo, as ondas, os ventos, as marés, o verdadeiro pulsar incessante do nosso planeta. É um sonho lindo. O corpo já chama por alimento, chegou a hora de cumprir um ritual ancestral, que separa o Homem dos restantes bichos, é hora de fazer fogo. Um ritual repleto de magia, deitando as pinhas e tapando-as com uma espinhosa manta de caruma, cobrindo-as com aromáticos galhos de pinheiro, e para fazer fumeiro alguns de loureiro. Quando o fogo acordar tenho de o cobrir com a negritude do carvão de azevinho, para nele repousar um prateado peixe habilmente escalado. Apenas fica a faltar, para decorar o ramalhete uns tomates, cortados grosseira com a navalha dos mil usos, salpicados com as flores do mar e o aroma forte dos orégão, apanhados de mão cheia, da minha humilde horta. O pão pingado com azeite acaba sempre por servir de prato para tão rico repasto, assim como as mãos serão sempre excelentes talheres. A barra de sabão e a cristalina e refrescante água limpam os últimos despojos deste momento único e memorável.
O Sol está no seu auge, o ar quente corre junto a epiderme, mas as paredes daquela simples habitação miraculosamente permanecem frescas, chegou a hora de repousar o corpo, retemperar o animo e sonhar. Sonhar embalado pelas ondas do mar, dormir com o rosto pousado no regaço das sereias, repousar o corpo batido na espuma das marés. Acordar com o grito das gaivotas e com o aroma do rosmaninho plantado pelas minhas próprias mãos, que cresce desenfreado num velho canteiro junto a janela do quarto. Abrir os olhos e vislumbrar a prata das ondas a dançar no tapete azul escuro do mar, e a entrar porta adentro o dourado brilhante da areia, onde irei pousar os meus grandes pés.
Chegou a hora de ir mendigar ao mar o meu alimento, armado com uma cana grande, maior que o meu corpo, mesmo num intenso espreguiçar, uma fina e transparente seda e um pequeno e retorcido anzol que odeia os meus inadaptados dedos, pois morde-me cada uma das vezes que tento tirar-lhe a minha presa das suas garras. O mar nunca negou-me uma refeição, e por isso serei sempre grato, seja pelos infindáveis peixes que sempre serão abocanhados pelo pequeno o arisco anzol, como pelo memorável e perfumado marisco que sempre floresce junto ás rochas batidas pelo mar.
Devo banhar-me por gratidão e admiração nesta água, para lavar o corpo, mas acima de tudo a minha alma, como forma de obter as graças desta imensidão, que caso queira, em breve irá levar-me no seu galopar. O Sol já vai baixo, e dificilmente existirá momento mais contemplativo que este, criador da mutação das formas, do despertar de todos os sentidos, sublimador de toda a existência. O mar transforma-se num abismo, mas a espuma das ondas parece ser um tapete de pérolas, e a praia o eterno leito onde irei deitar-me no final da minha loucura.
A noite pisca-me o olho, lembrando-se do crepitar do fogo que irá ser tanto para dourar o pescado fresco, como manter a temperatura quando o ar húmido e salgado começar a aconchegar a noite. O sono, vou chamar entre o virar de duas páginas de um livro de um filósofo maldito, ou de um poeta suicida, ou se o espírito o quiser, viajar montado nas palavras romanceadas duma obra de Jack London, ou um outro aventureiro qualquer, e começar minha longa maresia dos sonhos.
Era capaz de viver apenas com o aroma salgado do oceano.
...Já faltam poucos dias...
27 agosto 2009
Um punhado de dias

Está para breve...
Está para breve...
Está para breve...
Ouço a minha própria voz a murmurar-me ritmicamente ao ouvido.
Faltam apenas uma mão cheia de dias! A vida contada pelos dedos, num raciocínio simplista e até infantil!
Está para breve... o momento inadiável e inalterável, que irá mudar o curso da minha vida! O fruto do juízo dos homens, como uma provocação mandatária para quem vive nesta sociedade podre! Sim, porque esta é a minha opinião formada e esclarecida sobre o enxame de criaturas que atropelam, estropiam e matam, nas mais variadas formas, o carácter individual do cidadão.
O meu intimo diz-me que devo permitir os acontecimentos revelarem-se, e só depois, adequadamente intervir adequadamente, mas parece inevitável conseguir escapar ás nuvens negras que estorvam o meu espírito. As nuvens que nascem da condensação das gotas de sangue escuro que brotam das feridas que julgavam saradas da minha alma.
A água salgada do mar irá sarar estas feridas...
O Sol quente irá sublimar esta neblina cinzenta, que nem merece o nome de nuvem...
O ar fresco e húmido irá trespassar a minha alma, lavando-a deste odor desagradável...
O mal adensasse, mas basta cerrar os olhos e abrir os braços, e com este movimento, e com a tempestade que estes provocam, todos os demónios são forçados a refugiarem-se na sua escura pestilência...
Irei viver por mais um punhado de dias!
02 julho 2009
Fotografia
A terra está demasiado quente, o ar sufoca-me e as pernas já latejam, a dor e o sofrimento é tão intensa que não consigo continuar, até que por fim os olhos cerram-se e o corpo tomba violentamente.O cheiro do húmus ocre e o ruído dos insectos despertam o rosto inerte, só para este libertar as suas lágrimas, que enquanto correm pelo sujo rosto misturam-se com o suor frio e caiem por terra, alimentando o pequeno rebento, que sorri, grato pela dádiva.
A minha estrada terminou no local exacto...
A vida é tão simples.
26 junho 2009
Frágil
Nunca fui anónimo, nem sequer silencioso, apesar de muitas vezes calado ou até alheado.
Mas neste último ano, ano e meio, tentei aprender a ser mais uma centelha ténue, num mundo de buracos negros, super novas, estrelas cadentes, ou em ascensão. Embrenhei-me na filosofia, perscrutei nas religiões harmonia e bem estar, devorei livros (de literatura) a um ritmo insaciável, descobri a beleza da poesia (dos mestres), e descobri que ao fazê-lo cometi todos os erros num só acto! Procurava respostas escritas, palavras sábia, elixires milagrosos, e tentava recuperar um tempo que estupidamente achava ter perdido. Durante esse tempo, frequentemente deparei-me com o comentário que a "vida deve ser experimentada e vivida" (há ainda quem advogue que ao tentar-mos esmiuçar , analisar ou explicar a mesma, atentamos contra esta, pois quando o fazemos suspendemos a nossa própria existência). Hoje, não parece ser um comentário de todo disparatado!
No outro dia, ao passear-me pela net, parei num blog muito interessante. Confesso, que sem inocência já tinha tido o prazer de espreitar para o seu conteúdo, mas desta vez foi um pouco diferente, a mensagem falava do "veneno", uma substância mortífera e terrível, especialmente que for produzida pelo ser humano, corrói a essência do ser, destruidora das entranhas, afecta o pulsar da nossa centelha, aflige o âmago da carcaça externa, empurrando as nossa expressões faciais para baixo...
Ou não...
Imaginem-se a andar, com os pés descalços, em arestas de ardósia afiada, tal como encontramos em algumas das nossa belíssimas praias, neste preciso momento apresenta-se imediatamente uma solução - sair dali o mais depressa possível, ou da próxima munirmos-nos de algum tipo de calçado, ou em opção, tornarmos-nos mais miraculosamente mais leves, pousando delicadamente a planta dos pés sobre as cortantes arestas, desfrutando do ar fresco que corre nas frestas destas formações rochosas... e ir onde outros nem ousam a pousar o seu delicado e frágil corpo.
O simples prazer de experimentar...
Nunca fui anónimo, e confesso que sempre achei estranho um ser humano assumir-se como tal, mas creio que faz algum sentido "ser-mos algo indiferenciado" (apenas uma criatura que palmilha o seu caminho,) em oposição ao ser EU, protagonista.
Continuo calado, mas nem sempre silencioso... deve ser este o meu caminho?
No outro dia, ao passear-me pela net, parei num blog muito interessante. Confesso, que sem inocência já tinha tido o prazer de espreitar para o seu conteúdo, mas desta vez foi um pouco diferente, a mensagem falava do "veneno", uma substância mortífera e terrível, especialmente que for produzida pelo ser humano, corrói a essência do ser, destruidora das entranhas, afecta o pulsar da nossa centelha, aflige o âmago da carcaça externa, empurrando as nossa expressões faciais para baixo...
Ou não...
Imaginem-se a andar, com os pés descalços, em arestas de ardósia afiada, tal como encontramos em algumas das nossa belíssimas praias, neste preciso momento apresenta-se imediatamente uma solução - sair dali o mais depressa possível, ou da próxima munirmos-nos de algum tipo de calçado, ou em opção, tornarmos-nos mais miraculosamente mais leves, pousando delicadamente a planta dos pés sobre as cortantes arestas, desfrutando do ar fresco que corre nas frestas destas formações rochosas... e ir onde outros nem ousam a pousar o seu delicado e frágil corpo.
O simples prazer de experimentar...
Nunca fui anónimo, e confesso que sempre achei estranho um ser humano assumir-se como tal, mas creio que faz algum sentido "ser-mos algo indiferenciado" (apenas uma criatura que palmilha o seu caminho,) em oposição ao ser EU, protagonista.
Continuo calado, mas nem sempre silencioso... deve ser este o meu caminho?
10 abril 2009
Acasos
Este último ano tem sido estranho.Tenho visto frequentemente uma série de pessoas que noutros tempos cruzaram o meu caminho. Poderá tudo isto ter algum significado?
Antigas paixões, velhos colegas, amigos que desapareceram nas atribulações da vida, pessoas que de alguma forma influenciaram a minha vida, fizeram parte dela, e por consequência moldaram-na.
Sempre que tal acontece obriga-me a recordar as opções que tomei ao longo dos anos. Certas ou erradas, não creio serem agora relevantes, pois foi este o caminho escolhido e percorrido, e as consequências arcadas, até este preciso momento. Não deixa de ser estranho, esta série de eventos, mesmo que sejam apenas coincidências. Existe uma linha de pensamento ou credo que diz que não existem acasos, que tudo acontece fruto de um plano maior. Se tal for verdade, o que podem significar estes "acaso"? E esta também terrível sensação que faz-me sentir que algo num determinado momento já aconteceu, que este evento é profundamente familiar, como que estivesse a reviver um determinado momento, podendo ao ter consciência do mesmo, ter a capacidade de alterar o seu desfecho. Estranhamente parece ser como reviver um determinado sonho, ou a oportunidade de reverter, não os momento na história, mas as opções tomadas, permitindo escolher outras que não as tomadas no passado, ou apenas a vida a ensinar-me que estou aqui por consequência das minhas escolhas! Não tenho problemas de consciência, nem sequer acredito ter assuntos por resolver com o passado, tudo desse tempo é apenas matéria constituinte do meu ser, a fina fibra com que fui construído!
Em última analise, é muito bom rever estas pessoas que influenciaram a minha vida, e saber que estão bem, têm saúde, alguns são pais orgulhosos, outros comentam algum amargo e dizem que a vida continua, e são todos seres humanos íntegros. Esta será a nossa pegada neste planeta. Somos fruto da nossa educação, do nosso conhecimento, e consequentes do impacto que outras vidas um têm em nós, só pelo facto de terem passado perto. infelizmente só agora estou a dar a importância devida, que creio os seres humanos que me rodeiam merecem, pois provavelmente até o transeunte desconhecido que esbarra connosco no meio da rua terá importância para o caminho que tomamos. Depois de escrito, tudo isto parece óbvio, mas creio que tal como eu, muitos não têm isto presente nas suas vidas. Como formigas a participarem numa tarefa comum, ou como seres intervenientes no planeta, em que a distância entre todos será sempre menos que aquela que imaginamos.
Em cada dia que passa tenho que reconhecer que a vida ensina-me algo importante, e por isso estou-lhe grato.
Respeito
Quando movidos pela adrenalina, num momento de aflição, a perigar a nossa própria vida, ou a dos que nos são queridos, o nosso organismo produz naturalmente ferramentas de defesa, promovendo a acuidade dos sentidos, colocando-nos num estado de alerta, num verdadeiro sentido de despertar. Diz-se que é uma glândula que produz substancias que tornam tudo isto possível. Uma droga natural que faz-nos tornar mais rápidos, mais dinâmicos, e eventualmente mais espertos! Provavelmente não estou muito longe da verdade quando digo que o ser humano é letárgico e dormente, que somente quando os eventos o exigem é capaz de tornar-se excepcional. Da mesma forma como um antílope está tranquilo a pastar na savana, até ao momento em que sente o odor e a presença do leão, quando levanta a cabeça e todos os seus movimentos tornam-se súbitos e literalmente voa, para fugir ao seu caçador.
Não somos mais que animais a "pastar", até a necessidade chamar pelos nossos sentidos? Não era suposto sermos os seres mais inteligentes ao cimo do planeta Terra? O topo da cadeia alimentar?
Creio, que no fundo somos inferiores ao antílope na savana, caso não estejamos armados com uma espingarda munida de zagalotes, somos menos ágeis que uma foca no oceano, caso não estejamos protegidos por uma gaiola de aço, quando um grande tubarão branco procura comida, ou até menores que um rato quando estamos no deserto, sem água, á mercê das aves de rapina.
Temos, supostamente, inteligência que permite aprender com todos os exemplos dados pelos restantes seres que habitam este planeta, absorvendo as suas qualidades e rejeitando as suas limitações, possuímos habilidades únicas, como nenhum outro ser, e somos capazes de uma criatividade e espírito inventivo, que permitiu estarmos no cimeiro da cadeia evolutiva e capacidade de influencia neste planeta, e creio que tal como em tudo na vida devemos conquistar o seu respeito em vez de impormos a sua vontade.
Respeito é muito bonito, e recomenda-se...
05 abril 2009
A memória olfativa

Todos têm memória dos odores do nosso crescimento.
O cheiro a lavado da roupa depois da tortura do tanque, onde foi amassado por hábeis mãos que envolviam vigorosamente uma barra de sabão "azul e branco", faziam-nos sentir frescos no vestir, e era insuperável a sensação de deitarmos-nos envolvidos por lençóis acabados de colocar, o sono seria certamente reconfortante.
A combinação mágica entre o orégão fresco numa salada de tomates acabados de cortar, regados com fino azeite e salpicados com sal grosso. Todos os diferentes sabores e texturas a combinarem-se entre o garfo e lento percurso até as papilas da nossa boca.
O sabor que precedia o cheiro a bosque das amoras silvestres, apanhadas a custo entre a infinidade de espinhos de uma amoreira, só esquecido depois da reprimenda por causa das irreparáveis nódoas na roupa.
O salivar ao sentir o cheiro do pão quente pela manhã, acabado de fazer no forno do padeiro que ficava no final da rua, o prazer de queimar os dedos ao abri-lo, para o barrar com verdadeira manteiga, que transformava-se num creme liquido, depois rapidamente fechar esta concha e nos deliciarmos com este magnifico manjar. Acompanhado de uma grande caneca de café (de cevada) com leite.
O cheiro da chuva, das primeiras gotas caídas do céu contra o nosso rosto. O odor a terra, a ervas acabadas de cortar, talvez até um pouco a maresia, se estivéssemos perto da costa, ou nos momentos verdadeiramente únicos uma ocasional essência a flores e frutos silvestres.
Tenho de me mudar para o campo!
A combinação mágica entre o orégão fresco numa salada de tomates acabados de cortar, regados com fino azeite e salpicados com sal grosso. Todos os diferentes sabores e texturas a combinarem-se entre o garfo e lento percurso até as papilas da nossa boca.
O sabor que precedia o cheiro a bosque das amoras silvestres, apanhadas a custo entre a infinidade de espinhos de uma amoreira, só esquecido depois da reprimenda por causa das irreparáveis nódoas na roupa.
O salivar ao sentir o cheiro do pão quente pela manhã, acabado de fazer no forno do padeiro que ficava no final da rua, o prazer de queimar os dedos ao abri-lo, para o barrar com verdadeira manteiga, que transformava-se num creme liquido, depois rapidamente fechar esta concha e nos deliciarmos com este magnifico manjar. Acompanhado de uma grande caneca de café (de cevada) com leite.
O cheiro da chuva, das primeiras gotas caídas do céu contra o nosso rosto. O odor a terra, a ervas acabadas de cortar, talvez até um pouco a maresia, se estivéssemos perto da costa, ou nos momentos verdadeiramente únicos uma ocasional essência a flores e frutos silvestres.
Tenho de me mudar para o campo!
09 março 2009
Idiossincrasia

do Gr. idiosygkrasía < ídios, próprio + sýkrasis, constituição, temperamento
s. f.,
disposição do temperamento de um indivíduo para sentir, de um modo especial e privativo dele, a influência de diversos agentes;
reacção individual própria a cada pessoa;
04 março 2009
Vou ouvir música...

O silêncio não é ausência de som, é a não presença de corpo, é uma lupa sobre as ínfimas partículas presentes numa sala vazia, é o frio gélido de um quarto desabitado, tem o cheiro de um só hálito, e esconde na sua sombra todos os demónios que desde o nosso primeiro dia atentam a nossa vida, tentando afiar as suas garras no nosso couro, furando os olhos com a sua negritude e arrancando-nos a carne mole das orelhas, com as suas palavras indecifrável... As gotas de chuva ao baterem na vidraça parecem aves tresloucadas a embaterem numa carlinga, a ventoinha do ar condicionado, ouve-se como se fosse uma engrenagem desalinhada de uma velha e enferrujada máquina industrial, até as lâmpadas produzem um zumbido que mais parece o electrocutar de um inocente insecto.
O silêncio acorda o sempre atento lado nego da minha alma, uma criatura ancestral, um ser feroz, com um odor acre, a fazer lembrar palha molhada, armada com garras arqueadas, lascadas pela sua longa existência, olhos tão negros, que conseguem-se ver como dois buracos na escuridão. Sinto o seu lento pulsar, vindo de algo que pode ser o seu coração, ou apenas o arfar pesado e rítmico da sua respiração, marcando de forma inequívoca a sua presença na mesma sala onde me encontro.
Odeio o silêncio.
O silêncio acorda o sempre atento lado nego da minha alma, uma criatura ancestral, um ser feroz, com um odor acre, a fazer lembrar palha molhada, armada com garras arqueadas, lascadas pela sua longa existência, olhos tão negros, que conseguem-se ver como dois buracos na escuridão. Sinto o seu lento pulsar, vindo de algo que pode ser o seu coração, ou apenas o arfar pesado e rítmico da sua respiração, marcando de forma inequívoca a sua presença na mesma sala onde me encontro.
Odeio o silêncio.
28 fevereiro 2009
O Caçador

O instinto predatório corre-nos nas veias desde tempos primitivos, faz parte da nossa essência, gostamos de perseguir, de atentar, e alguns até de matar. Provavelmente no inicio por instinto de sobrevivência, para comer ou como defesa, para ao longo dos tempos transformar-se numa arte apurada e deturpada de viver - poucos são aqueles que não são mesquinhos ou cruéis para com o seu semelhante, podem até justificarem os seus actos referindo que a vida, ou a sociedade assim o obriga, mas creio que até a justificação não passa de mais uma das características desta enfermidade. Em tudo na nossa vida queremos estar em vantagem, valorizamos a esperteza em detrimento da inteligência (conseguindo até chamar inteligência à esperteza), na vida social tentamos ser "superiores" aos que estão ao nosso redor, na profissional, a vantagem é pedra basilar para o sucesso, e por fim trazemos esta linhagem agressiva para os afectos, mostrando que somos "melhores".
Na generalidade das religiões faz-se múltiplas referências à fraternidade, ao companheirismo, à igualdade, mas a historia mostrou que também reinterpretaram estas palavras aos seus interesses, atentando à liberdade, oprimindo povos, e até matando barbaramente, com a simples capacidade de interpretar ditos, livros, pergaminhos, e todas as outras formas de comunicação que se possam lembrar.
Talvez faça parte do nosso tecido, e por muito que tentemos esfregar nunca vai sair, ou até seja um mecanismo genial de sobrevivência, o único que nos mantém no topo da cadeia alimentar, ou talvez estejamos completa e absolutamente enganados!
Senão, pensem até onde este louvável comportamento nos trouxe: o planeta está á beira do colapso, sugamos diariamente tudo o que tem para nosso beneficio (minerais, petróleo, gás, fauna, flora, e provavelmente agora mesmo alguém descobriu alguma coisa mais para delapidar), guerreamos e matamos em circunstâncias perfeitamente inexplicáveis, e se isto não fosse já suficiente, somos incapazes (ou pouco aptos) a praticar o bem, ou quando tal acontece é porque é dedutível ou fica bem socialmente.
Estas palavras também não são isentas destes males, mas podem despertar a atenção de alguém para a fealdade presente nesta realidade, e fazer a mesma questionar se poderia melhorar! Está dentro de nós a possibilidade de alterar algo, no planeta, no país, na nossa cidade, ou apenas em nós...
Um poça de lama para muitos será um sitio a evitar, para outros pode significar a única forma de saciar a sua sede.
Na generalidade das religiões faz-se múltiplas referências à fraternidade, ao companheirismo, à igualdade, mas a historia mostrou que também reinterpretaram estas palavras aos seus interesses, atentando à liberdade, oprimindo povos, e até matando barbaramente, com a simples capacidade de interpretar ditos, livros, pergaminhos, e todas as outras formas de comunicação que se possam lembrar.
Talvez faça parte do nosso tecido, e por muito que tentemos esfregar nunca vai sair, ou até seja um mecanismo genial de sobrevivência, o único que nos mantém no topo da cadeia alimentar, ou talvez estejamos completa e absolutamente enganados!
Senão, pensem até onde este louvável comportamento nos trouxe: o planeta está á beira do colapso, sugamos diariamente tudo o que tem para nosso beneficio (minerais, petróleo, gás, fauna, flora, e provavelmente agora mesmo alguém descobriu alguma coisa mais para delapidar), guerreamos e matamos em circunstâncias perfeitamente inexplicáveis, e se isto não fosse já suficiente, somos incapazes (ou pouco aptos) a praticar o bem, ou quando tal acontece é porque é dedutível ou fica bem socialmente.
Estas palavras também não são isentas destes males, mas podem despertar a atenção de alguém para a fealdade presente nesta realidade, e fazer a mesma questionar se poderia melhorar! Está dentro de nós a possibilidade de alterar algo, no planeta, no país, na nossa cidade, ou apenas em nós...
Um poça de lama para muitos será um sitio a evitar, para outros pode significar a única forma de saciar a sua sede.
27 fevereiro 2009
O Estranho Prazer de Fumar
Gosto muito de um cigarro, em particular casado com um café amargo, bem tirado (não aquela malga de borras que é frequentemente servida), sentado ao lado de um americano de nome Jack (Daniels, para os menos familiarizados com o simpático sulista).Odeio o sabor a palha na garganta, mesmo depois da tradicional lavadela de dentes antes do sagrado sono, só suplantado pelo nojo do catarro castanho-esverdeado-bola-de-pus da manhã.
Adoro aquele santo cigarro pós sexo, quando os pulmões estão mais libertos, depois do arfar, e o fumo consegue chegar aqueles lugares recônditos dos pulmões, conseguindo inclusive inspirar um cigarro quase inteiro de um único fôlego, para depois o expirar em artísticas argolas.
Incomoda-me aquela nódoa entre os cúmplices dedos, que persiste em desaparecer, mesmo depois de muito esfregada com o mais abrasivo detergente, deixando sempre a sugestão no odor do crime praticado.
Acho piada aos trejeitos típicos no manusear do cigarro, com as subtilezas na forma como o retiramos do maço, o cinematográfico movimento de o colocar no sitio certo entre os lábios. Sendo a cereja em cima do bolo a arte ancestral de acender o isqueiro de um só golpe, e a conjugação de todos os actores para o grand finalle - lábios a pressionarem o protagonista, a mão a segurar a pedra de fogo, e este como que por magia a abraçar calorosamente a ponta do cigarro.
Aterroriza-me ver um filho meu a cheirar a cinzeiro cheio (tal como eu), na sua roupa, nas suas mão, no seu ser. De imaginar passar pelas mesmas nojices que diariamente passo por ter tão infeliz hábito. A perder o prazer de sentir os cheiros, de coisas simples como a erva molhada, do aroma reconfortante de um pinhal. Ou de perder a oportunidade de sentir as subtilezas olfactivas presentes no corpo da pessoa que um dia decidir amar.
Tenho de deixar de fumar!
26 fevereiro 2009
O Rio Quente
O sangue espesso e quente, com aquele característico sabor metálico, que nos corre no labirinto de veias que percorrem a nossa carcaça, movendo os nutrientes tão necessários para a nossa sobrevivência, alimentando cada milímetro desta estrutura, tornando harmoniosos os movimentos, e permitindo-nos existir, que também move as malditas doenças, que entram por invisíveis e microscópicos poros invadem o nosso interior e minam a nossa vontade, subjugando um ser adulto ás amarras de um leito morno, retirando-lhe primeiro a vontade, depois a luz, de seguida a cor, e por fim tenta levar-lhe a vida.Enquanto durar esta batalha de titãs, entre os guerreiros sujos de cinza escura, oriundos do mais putrefacto charco do Inferno, e os resplandecentes arautos da vida, cobertos de um tom vermelho ocre que brilha quando as nuvens se afastam. Nós somos pouco mais que infelizes espectadores, contorcendo os nossos corpos quando os "cinzentos" estão por cima, e lamuriando quando os supostamente nossos campeões estão em vantagem. Perante tão triste quadro, podemos continuar a mamar nas tetas putrefactas de um animal moribundo, ou abraçarmos o cacto mais espinhoso, arrancarmos com os próprios dentes os bicos que trespassam-nos a carne e beber sofregamente a sua seiva, até este mirrar, para logo depois corrermos para o próximo com o mesmo propósito, até sentir o rio que nos percorre a transformar-se de um charco de águas paradas onde os insectos fazem festins, num cachão de águas vivas, que nos obriga a abrir os olhos, a boca, as narinas e todos os nossos poros na procura das sensações que a nossa fraca memória conseguiu preciosamente guardar.
Ainda não chegou a hora.
A Fibra

A vida diz-nos sempre em que direcção devemos seguir. A direcção certa, dentro das múltiplas que se deparam a nossa frente, as seguras, as acidentadas, as passivas e as tumultuosas. Mas dentro de todas existe sempre uma certa, que nos prepara para tudo na nossa vida, que nos ensina e faz-nos crescer, mas acima de tudo faz-nos sorrir perante cada um dos amanheceres da nossa existência, faz-nos sorrir de felicidade e realização, por estarmos gratos pelo que vivemos, também sorrimos por nos sentirmos preparados de cada vez que defrontamos a adversidade, olhando-a nos olhos, esgrimindo com sapiência, pois já sabemos o resultado do desafio muito antes deste se ter iniciado. Sorrimos porque somos verdadeiramente felizes, porque estamos completos, em cada segundo presente na nossa existência. Nos próximos, quando chegarem, vivemos-los com a mesma entrega, e devemos a nós mesmos um sorriso!
Mas, como somos feitos de matéria falha, somos sempre imperfeitos, a carne apodrece, os músculos enfraquecem, o sangue estagna, os ossos desfazem-se e o cérebro mirra, desde o primeiro dia que vimos a luz do Sol, a cada palpitação aproximamos-nos do nosso derradeiro momento de extinção. O tempo, a cada dia que passa é mais precioso, o tempo é a estrada da nossa vida, por vezes largo, outras estreito e acidentado, e ao avançarmos na nossa vida a noção do mesmo vai-se alterando, ao termos cada vez mais noção da nossa fraqueza, das nossas limitações, agarramos-nos cada vez mais a fibra do tempo, como que a procurar pela corda que nos salva da queda certa no nosso abismo imaginado.
Mas, como somos feitos de matéria falha, somos sempre imperfeitos, a carne apodrece, os músculos enfraquecem, o sangue estagna, os ossos desfazem-se e o cérebro mirra, desde o primeiro dia que vimos a luz do Sol, a cada palpitação aproximamos-nos do nosso derradeiro momento de extinção. O tempo, a cada dia que passa é mais precioso, o tempo é a estrada da nossa vida, por vezes largo, outras estreito e acidentado, e ao avançarmos na nossa vida a noção do mesmo vai-se alterando, ao termos cada vez mais noção da nossa fraqueza, das nossas limitações, agarramos-nos cada vez mais a fibra do tempo, como que a procurar pela corda que nos salva da queda certa no nosso abismo imaginado.
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