27 fevereiro 2009

O Estranho Prazer de Fumar

Gosto muito de um cigarro, em particular casado com um café amargo, bem tirado (não aquela malga de borras que é frequentemente servida), sentado ao lado de um americano de nome Jack (Daniels, para os menos familiarizados com o simpático sulista).

Odeio o sabor a palha na garganta, mesmo depois da tradicional lavadela de dentes antes do sagrado sono, só suplantado pelo nojo do catarro castanho-esverdeado-bola-de-pus da manhã.

Adoro aquele santo cigarro pós sexo, quando os pulmões estão mais libertos, depois do arfar, e o fumo consegue chegar aqueles lugares recônditos dos pulmões, conseguindo inclusive inspirar um cigarro quase inteiro de um único fôlego, para depois o expirar em artísticas argolas.

Incomoda-me aquela nódoa entre os cúmplices dedos, que persiste em desaparecer, mesmo depois de muito esfregada com o mais abrasivo detergente, deixando sempre a sugestão no odor do crime praticado.

Acho piada aos trejeitos típicos no manusear do cigarro, com as subtilezas na forma como o retiramos do maço, o cinematográfico movimento de o colocar no sitio certo entre os lábios. Sendo a cereja em cima do bolo a arte ancestral de acender o isqueiro de um só golpe, e a conjugação de todos os actores para o grand finalle - lábios a pressionarem o protagonista, a mão a segurar a pedra de fogo, e este como que por magia a abraçar calorosamente a ponta do cigarro.

Aterroriza-me ver um filho meu a cheirar a cinzeiro cheio (tal como eu), na sua roupa, nas suas mão, no seu ser. De imaginar passar pelas mesmas nojices que diariamente passo por ter tão infeliz hábito. A perder o prazer de sentir os cheiros, de coisas simples como a erva molhada, do aroma reconfortante de um pinhal. Ou de perder a oportunidade de sentir as subtilezas olfactivas presentes no corpo da pessoa que um dia decidir amar.

Tenho de deixar de fumar!

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