No inicio do inverno, um igual a tantos outros que já contaram, num lugar sobranceiro ao mundo, por entre os basaltos daquele monte, brotavam do solo, germinavam lentamente dois brotos quase envergonhados e genuinamente encandeados pelos raios de Sol, naquela manhã fria. Espreitavam sob o gelo que se tinha formado durante a noite escura, abrindo caminho em direção ao seu destino, vislumbrar a felicidade daquele dia de inicio de inverno. Cada um lutava para encontrar o seu caminho, rasgando o vítreo dos cristais de gelo, que se afastavam, como se fosse esse o seu desígnio, mas suas raízes, quase como mãos dadas, ou os corpos de amantes abraçavam-se ferreamente debaixo do solo, aproveitando cada réstea de calor que emanava das profundezas da terra, numa ligação terna, mas sedenta de vida, alimentavam-se, partilhavam os nutrientes oferecidos pela terra mãe, consumiam o elixir que corria sob a crosta, num festim de emoções e prazer, os braços, estames lançados para cima, dança fecunda, alegoria de um sorriso rasgado, profundo e genuíno, com as raízes abraçadas, escondidas do olhar da infelicidade, da inveja dos outros e ligados pelo destino.
Olham para cima, sentiram a caricia do dia, sorrindo em cumplicidade. O Sol brilhava alto enquanto o degelo corria por entre as pedras do monte seguindo a sua fortuna. A memória daquele dia iria ser queimada pelo gelo acutilante da noite inevitável.

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