10 novembro 2015

Êxtase

As curvas da vida são linhas entre o ponto a e b que escolheram ser mais interessantes do que uma linha recta. Interessantes, mas também tortuosas, por vezes dolorosas, outras dramáticas, sedutoras, pungentes, arrebatadoras, profundas, extasiantes, tortuosas, mas sempre, sempre interessantes.
A inevitabilidade de sofrermos enquanto caminhamos por entre as curvas, mantendo o corpo e o espirito em equilíbrio, quando as pendentes nos empurram para as bermas, que pode ser um colchão de erva tenra, suave e tentadora, outras ninhos de espinhos, campos de silvas escarnosas, mas atrapalha e vacilamos para mantermos-nos na estrada, a mesma que queima a planta dos pés, ensanguentando, criando uma crosta  frágil  que quebra a cada passo dado, deixando inevitavelmente a nossa pegada esborratada num vermelho escuro no pavimento, um borrão indecifrável, inteligível para quem segue no nosso encalço. 

A dor está sempre presente! Tal como o prazer e a beleza caso haja perseverança e determinação, transfigurando um corpo fustigado pelo palmilhar arqueado, num pairar, leve, superficial, delicado e etéreo. Como uma brisa que baila entre o fresco do orvalho que escorre sobre o musgo e troncos torturados sob as sombras leves numa manhã de inverno e o calor momentâneo, explosivo e ardente no despertar de um raio de Sol. 

Curvas feitas de socalcos rasgados na pele, por onde escorre um sangue quente e borbulhante, que enquanto desce, transbordando por fora, rasgando ainda mais as feridas abertas pelo tempo, empurrado pela gravidade e pelo destino, perde vigor, luz e intensidade, transformando-se numa seiva indiferenciada, um mosto escuro que cai por terra, semente inféril, desprovida de vida.

Curvas quentes, intensas, fogosas, como o corpo premente de uma mulher em êxtase, um palpitar, tremor que  tem o poder de criar mais curvas, pelo prazer, pela intensidade daquele momento, uma palpitação sonora, um arfar quente, um suspiro, ardor e prazer que  invadem o corpo desde dentro, um orgasmo de vida, o fogo  que consome os sentidos, levando-nos ao rubro, incendiando a nossa alma com uma centelha ardente, um fogo fátuo que dança em delírio frenético.   

Sem comentários: