16 novembro 2015

Asas

Escrevo páginas soltas, doridas, envelhecidas pelo passar do tempo, ideias soltas que voam trôpegas, como um pássaro de asas rasgadas, ave moribunda que luta contra a sombra que pinta no chão. 
Palavras sem sentido, sem corpo, ou com um tal que luta furiosamente para despedaçar as suas vestes mundanas. Procuram calor, humanidade, sangue quente e vivo para se alimentarem. Procuram a fúria, o ardor, o abismo de uma fornalha, a paixão de sentir. 

Asas negras, coladas á carne do corpo, esfrangalhadas, dilaceradas. Quando abrem projectam uma sombra que queima. Voar, pairar para longe, fugir daqueles que amo, para não causar adversidade, desgraça, dor e infelicidade. 

Mergulhar furiosamente num braço de água, rio profundo, afogar-me, morrer para puder renascer, banhar-me nas profundezas do esquecimento, limpar a voragem. 

Palavras surdas, para não serem ouvidas por mais ninguém a não ser os meus próprios ouvidos, funis, cornetas que ligam o mundo ao mais profundo da minha alma ensanguentada. Aprende-se a conter o gesto, doloroso, de olhos fechados, negando o sonho. Sonhar com terras distantes, cálidas e ternas, negando a escuridão que vive por dentro, por debaixo destas asas andrajadas. 

Sonhar, apenas sonhar que um dia o sal deste mar consiga arranhar estas asas negras de sangue coagulado, solidificado, arrancado-as da minha sombra. 

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