19 junho 2010

Ouro

O ouro, a luz que cega, que estilhaça a carne e sublima o espírito, transformando-nos numa pira de cinzas negras, que o vento leva para longe, até nada restar que recorde a sua presença. O brilho amarelo da cobiça, cor de enxofre, nascido no Inferno, numa terra onde nada cresce, a cal viva envelhecida pelo tempo, que corrói a carne, deixando apenas os ossos para serem fustigados pelos elementos, deixando rios de pó vermelho, outrora seiva da vida, que acabam a dançar pelo ar, colorindo desta cor a Lua triste que se esforça por iluminar os ermos de uma qualquer terra esquecida. As sombras são negras, mas baixas, desenhadas por contorcidos troncos, que rangem de sofrimento, gemem de dor, enquanto se desfazem lentamente, caindo mortos na terra infértil, sob o riso dos corvos negros, depenados e infectos que guerreiam pelos despojos no chão poeirento.

O ouro, iluminado pelo quadro negro e escuro, vive solitário, perdido, esquecido, desprovido de pecado, pois agora já não existem sob o Céu vermelho os olhos vitreos onde o seu reflexo pode brilhar.

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