16 maio 2010

Obrigado

SALAESCURACHEIADEFUMOETRISTEZA


As Palavras e Outras Maldições...

Prenuncio de sorte ou anuncio de morte, será sempre um elogio à vida. 

Legado, memórias, vivências e testemunhos serão sempre dignos de ser escritos ou verbalmente contados, não como uma elevação ao ser individual, ou uma procura de protagonismos, mas a simples e singela historia de um ser humano, contada na primeira pessoa, não como aviso à navegação (porque cabe a cada um percorrer o seu próprio caminho), mas sim uma longa lengalenga com tantas palavras como os dias calcorreados, com todos os ingredientes dignos de um qualquer romance de cabeceira (pelo menos mediano, espero eu). Umas vezes contado em tempo real, outras baseado em memórias vivazes, outras germinadas da dor e do sofrimento, todas merecem ser ditas, contadas, escritas com mão firme, mesmo quando os lábios tremem, ou com voz firme, mesmo quando o peito aperta na sua forma mais dolorosa. Os dias são longos, por vezes foram meses, outros pareceram ser anos, outros ainda apenas dizimas de um segundo de vida, mas entranhados tão dentro de nós como um cancro em remissão, que teimosamente força a sua presença ao lembrar-mo-nos da sua existência pelo simples facto de abrir-mos os olhos a cada nascer do Sol.

As palavras são entidades com vida própria, trucidam-nos o cérebro, abrindo caminho pelos ossos do crânio até chegarem a boca, rasgando-a violentamente até respirarem o mesmo ar que nós, por vezes com tanta dor, a gritar, espetando as suas farpas dentro de nós, até agarrar os pulmões, dilacerando-os, expelindo-os para fora da garganta. Outras tantas, é um caldo morno que percorre o corpo, aquecendo-nos, sai suave e tranquilo por entre os lábios, com um perfume de flores, em silêncio, uma neblina matinal que dá vida,  palavras mudas, que só os olhos conseguem ouvir.

Poderiam ser apenas um incontável molho de palavras aglutinadas e mal articuladas, e certamente os mais hábeis conseguem dizer o mesmo num punhado apenas, destiladas no alambique dourado da poesia, mas estas são as que nascem de dentro e saem-me projectadas entre os lábios, e que obrigam as mãos a mexerem-se.

São as que sei... e terão direito à vida como quaisquer outras!

15 maio 2010

俳句 Haiku


借りて寝む
案山子の袖や
夜半の霜

I would sleep,
borrowing the sleeve of the scarecrow.
Midnight frost.

12 maio 2010

Noite

As nuvem por vezes galopam velozes como uma debandada de animais em fuga temendo pela sua vida, depois num piscar de olhos, lentas e harmoniosas, como um bando de aves migratórias. Mas a Lua é serena, lânguida no seu semblante, brilhante como os olhos de uma amante, terna como as águas tranquilas de uma lagoa. 

Estou acordado, desperto, acesso como um vaga-lume, perdido na noite, a chocar violentamente contra as luzes brilhantes. Estive aqui deitado, sobre esta verdura tenra, com o corpo nu e a alma completamente despida, as arestas dos basaltos amaciam o dorso, as agulhas dos pinheiros mais parecem terapia numa sessão de acupunctura, o seu cheiro purifica-me, os pés deliciam-se dentro de água fresca da lagoa negra enquanto as nuvens tapam com o seu véu a sensual e brilhante Lua... Uma sensação indescritível!

Este é o mesmo corpo celeste que irá preencher e iluminar todas as minhas noites escuras, durante o meu sono eterno... 

Mas isso, se não se importam, fica para mais tarde!

06 maio 2010

Sobre...

Estas são as únicas flores que quero sobre a minha campa rasa. Para sentir-lhes  o inconfundível odor untado da natureza quente, das memórias dos melhores momentos da minha vida... Juntem uma mão cheia de sal marinho, quebrado dos cristais formados num charco esquecido à beira mar na maré baixa, espalhem-no sobre a terra negra e serei feliz!