Uma borracha feita de matéria escura, crude negro, que apagou todos os seus sorrisos, conseguiu até deformar a seu rosto, e deixou arestas reticuladas desta matéria a guardar esta porta mágica, nunca mais permitindo que sequer um esgar de felicidade saísse e vislumbrasse a luz do dia, como grifos ferozes que guardam as portas de um templo sagrado, amaldiçoando quem tenta entrar e destruindo quem se atreve a sair.
Somente alguém detentor de um poder tão intenso e um coração tão puro como as claras águas da montanha branca poderiam quebrar aquele feitiço ancestral. Alguém que conseguisse com o poder infinito da luz salvar uma alma tortuosa do seu purgatório, que com um toque terno fosse capaz de lavar a lama que ofuscava o cada vez menor brilho do seu corpo.
Já pouco ou nada importava, o final estava escrito, os sonhos foram cobertos por esfarrapadas asas negras, como a mortalha quente da morte e o seu corpo moribundo estava a ser devorado por um basilisco, numa sala escura sem espelhos que o pudessem salvar.
Destas cinzas já não deveria crescer nada mais.
Um último e profundo suspiro faltava ser vivido.

1 comentário:
O lado negro sempre pareceu ser o mais criativo. Deixar todos os demónios dançarem dentro deste cadilho a que chamamos corpo, para que o seu suor escorra pela ponta dos dedos, e deixe um sabor adocicado na boca a cada palavra proferida. O preço a pagar bem poderá ser sermos comidos por dentro, perdendo as expressões, esquecendo-nos de actos tão belos como sorrir...
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