Ficar quieto... 'Stand still' soa melhor!
A solidão está a ganhar terreno, a instalar-se confortavelmente dentro do meu espírito, a invadir-me a mente e até atrevendo-se a falar-me ao ouvido.
A casa está fria a toda e qualquer hora do dia, tudo está no seu lugar, mas estranhamente, esses lugares sempre parecem desapropriados, ou erradamente escolhidos, como naturezas mortas em pastel num infeliz e estéril quarto de hotel. Estão trinta e um graus, mas mesmo assim, parece que consigo ver a condensação do meu expirar, a música soa estranhamente profunda, quase espiritual, consigo ouvir o pesado arfar entre cada nota cantada pela Nina e os instrumento estão imparáveis, não existe silêncio, consigo ver os músicos a moverem-se, a posição dos seus rostos, o baterista, enquanto roda as escovas, arqueia os braços e respira profundamente. O ajustar do banco, primeiro um salivar, depois o acomodar das mãos ás frias teclas do piano, uma profunda inspiração, para repescar a alma do seu purgatório, para de seguida a expulsar em cada martelar, martirizando-a, amaciando-a até chegar de forma adocicada aos meus ouvidos, sedentos de carinho. É a paisagem perfeita para a voz crua desta mulher grande, cheia, forte e estranhamente sensual, que quase perfura-me os tímpanos, para resgatar a minha alma perdida.
A solidão ainda aqui está, sinto-a a apertar-me o peito, como um torniquete, que impede a música de entrar e a tristeza de sair do meu corpo moribundo.
A solidão ainda aqui está, sinto-a a apertar-me o peito, como um torniquete, que impede a música de entrar e a tristeza de sair do meu corpo moribundo.
Tenho a mente vazia, como um caldeirão de ferro forjado deixado demasiado tempo sobre o fogo, os seus líquidos à muito foram sublimados, evaporaram-se e perderam-se na neblina da sala fria, o que restou dissipou-se, deixando um odor ocre, como sangue no palato, metálico, como se conseguisse saborear o frio aço de uma espada, enquanto esta nos trespassa mortalmente. O caldeirão está vazio, começa a ver-se o rubro das chamas, a dança do fogo, o inferno vive lá dentro, tudo o que cair no seu regaço será destroçado, nunca mais ninguém saberá do seu paradeiro, será lançado no infinito esquecimento.
A negritude dentro do meu espírito quer resgatar a minha alma imortal.
Vou ficar quieto, parado, fazer-me de invisível, deixar que se canse, sugerir-lhe que pode apanhar-me em qualquer outro dia, deixa-lo tornar-se incandescente ao ponto que quando a centelha pura tocar-lhe esta seja estilhaçada e aniquilada como merece. Mas a minha luz esconde-se, creio que acreditando na nobreza do ser humano, obriga-nos a passar por todas as provas celestiais, para que possamos crescer, aprender e continuar.
Vou ficar quieto, parado, fazer-me de invisível, deixar que se canse, sugerir-lhe que pode apanhar-me em qualquer outro dia, deixa-lo tornar-se incandescente ao ponto que quando a centelha pura tocar-lhe esta seja estilhaçada e aniquilada como merece. Mas a minha luz esconde-se, creio que acreditando na nobreza do ser humano, obriga-nos a passar por todas as provas celestiais, para que possamos crescer, aprender e continuar.
Vou ficar quieto, e aprender... Para viver um dia mais, e adiar a minha morte.

2 comentários:
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Nem sei o que dizer...não consigo mesmo...não neste momento, pelo menos...que texto MAGNÍFICO! Fiquei sem palavras...ainda estou aparvalhada...fantástico, M...
Grato:)
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