07 agosto 2011

Κάθαρσις


Dizem que devemos ler mil livros antes sequer de termos a dignidade para escrever algumas linhas para apreço de outros. Pois acredito que todo o conceito, apesar de coerente, é erróneo! Acredito que faz todo o sentido usarmos o verbo para expandirmos a voz e alma, usarmos o verbo como extensão do arquear da língua para produzir sons, um espelho finamente polido, numa sala sem portas, para o qual podemos sem receio olharmos para dentro de nós, para vislumbrar a verdadeira cor do nosso, para ter a oportunidade de abraçar a etérea forma do nosso ser.

Creio que todos gostariam de ter oportunidade de traçar a linha condutora da sua vida, possuir a pena mágica que permite reescrever nas entrelinhas do nosso destino, alterando-o, ou até conseguir que a próxima pagina fosse branca, para sermos nós os autores da seguinte prosa. Somos todos constituídos da mesma matéria e movemos-nos com a mesma energia, ligados a todos os outros elementos que formam este belo Universo.

Como lavar o corpo demoradamente com sal grosso até a carne sentir-se viva, afogarmos-nos no Oceano e sentirmos o cheiro da maresia pela primeira vez numa lufada de ar, sentirmos o queimar do suor quente a escorrer pelo ventre enquanto fazemos amor ou o torpor embriagado de um orgasmo, o som surdo dos corações e corpos ao palpitarem em uníssono, sob o arfar quente e salgado da paixão.

Estou cansado de tudo e de muita coisa, necessito de cair para ter oportunidade de levantar-me, ou apenas ficar deitado a vislumbrar as constelações de olhos bem abertos, esquecer as pessoas e o mundo, viajar para longe para poder descobrir as cores dos pequenos momentos, arrancar as raízes e roçar os ramos podres para poder enxertar novos galhos cheios de vida. Preciso largar tudo para não mais sentir falta.


Esta é a minha despedida, eventualmente um até breve, ainda não sei, ainda não está escrito, ainda não foi lido, mas também não será importante!

Todas estas palavras sabem a cinza escura, secam-me a boca, vou finalmente  calar-me...

17 abril 2011

O pequeno seixo coberto com limo escuro...


Quando todas estas as nuvens negras encimam a minha magra sombra e sou fustigado pela chuva fria que cai sobre os meus ombros, nada mais resta a fazer senão sorrir.  Pela dádiva da vida, pela frescura da água, pela beleza da natureza e pelo cheiro forte e quente da terra molhada.

Com o nome arrastado pela lama, a credibilidade dilacerada por mentiras, o corpo partido pela opressão, o orgulho manchado por mentiras, difamado e banido por gente cruel e triste, resta-se abrir os braços mostrar o peito aberto e chorar de alegria. 

Com os olhos fechados, as lágrimas quentes aquecem-me  o corpo gélido e uma alegria alimentada pelo amor daqueles que realmente são importantes, faz desvanecer a dor, fazendo desaparecer as ossadas marcadas no meu torso, os olhos caídos, plantados em covas escuras no rosto cinzento iluminam-se para mostrar a quem vê mais longe daquilo se os fracos sentidos mostram, a luz forte que brilha de dentro para fora, o fogo branco que nasce da verdade, a força que pulsa desde o principio dos tempos, o lume criador da alma.

Vou morrer, mas não hoje!

02 abril 2011

Siren



Long afloat on shipless oceans
I did all my best to smile
'til your singing eyes and fingers
Drew me loving to your isle
And you sang
Sail to me
Sail to me
Let me enfold you
Here I am
Here I am
Waiting to hold you

Did I dream you dreamed about me?
Were you hare when I was fox?
Now my foolish boat is leaning
Broken lovelorn on your rocks,
For you sing, 'touch me not, touch me not, come back tomorrow:
O my heart, o my heart shies from the sorrow'

I am puzzled as the newborn child
I am troubled at the tide:
Should I stand amid the breakers?
Should I lie with death my bride?
Hear me sing, 'swim to me, swim to me, let me enfold you:
Here I am, here I am, waiting to hold you'

03 janeiro 2011

Sonho

Abraça o tronco da árvore e sente o espírito, sente o calor da pedra entrar no teu corpo, mergulha na nascente como se fosse um lugar líquido do teu corpo noutra vida. Mas os espíritos têm de ser reconhecidos para tornarem-se reais. Eles não estão fora de nós, nem inteiramente dentro, mas correm para diante e para trás entre nós e os objectos que fizemos, na paisagem que moldámos e na qual nos movemos. Sonhámos com todas estas coisas nas nossas vidas mais profundas e elas são nós próprios.