08 dezembro 2014

Um dia de sol perdido no contar dos dias terá o mesmo destino que as lágrimas que caem sobre a terra mirrada?

O corpo pede e grita sublevação, mas o espirito quebrado pela mentira recusa. Estropeado, mutilado, derreado. Amaldiçoado, por ter a capacidade de procurar sinónimos para aleijado! Sai desse fosso, levanta-te, liberta-te. Basta afastar o amontoado de carne e ossos dessa laje branca e fria. Olhar para o alto, ver o azul e o branco, cegar com a luz do sol, sentir o calor na face, despertar, saltar desse leito mortal, andar com os pés firmes no solo, permitir que o vento acaricie o teu rosto. Abrir os olhos pelas milhentas cores da natureza, inspirar o verde, o azul, o escuro da terra, ou até o amargor das pessoas. A tumba escura e bafienta trespassa-me o corpo, segurando com amarras ferrugentas e cordas grossas, treliça de teias e farpas negras criadas por uma mente torturada. 

Este sol chama-me, como um canto de sereia, inaudível, sereno, maldito, doce e irresistível como aquela pequena estrela que vive cintilante dentro de cada lágrima, sempre visível enquanto esta desliza suavemente pelo rosto.

Ergue-te caído, assoma o teu semblante na direção destes raios de sol, descobre, continua a procurar o mistério... vive mais um dia.