19 agosto 2010
Escuridão
Este é o momento em que somente resta vergar os joelhos, deixar o corpo cair sobre a terra dura, pousando as mãos na fina camada de pó na sua cobertura, sentir o quente, entranhando os dedos nas suas profundezas, dilacerando a carne enquanto se afundam, sentir o vento a secar as lágrimas, o dia a amaciar o dorso despido, arrancando ternamente cada pedaço da sua forma. A cabeça baixa, junto ao peito magro com as costelas a desenharem escadas arqueadas para os vermes subirem em direcção aos seus lábios.
Nada mais resta fazer a não ser esperar. Deixar o corpo inerte, tombado sobre o húmus, apenas a aguardar que a natureza cumpra a sua promessa. Esperar que o sal e o Sol temperem esta carcaça, que os monstros espezinhem e calquem mais ainda contra o duro chão até do sangue não restar nada mais que uma pasta negra em contraste com o branco cálido do pó que os ossos secos deixam sobre o solo triste.
06 agosto 2010
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