
21 setembro 2009
18 setembro 2009
Sorrir?
...já sinto o sabor amargo a fel das parcas horas que faltam para o grande dia do meu julgamento!Dois Sois vão queimar a minha carne,
Duas Luas vão dançar sobre a minha sombra,
Mas, amanhã ambos vão continuar naturalmente a sorrir!
13 setembro 2009
Sal
O sal colado ás pestanas e a areia debaixo dos pés, é um dos quadros maravilhosos que irá figurar ao longo da minha vida, como símbolo glorioso do Verão.A maresia a entrar pelas narinas, e aquele maravilhoso sabor a mar a retemperar o palato.
Viver numa simples e humilde habitação, a beira-mar, a acordar embalado pelo ritmo natural das ondas, com o lavar do rosto temperado com o ar salgado que invade toda a casa, sendo pão coberto com azeite, a regar o açúcar mascavado, escuro como uma fruta desmaiado madura, como acompanhamento de um gordo ovo estrelado, acompanhado de uma tenra salada acabada de colher e salpicada por frágeis pétalas de sal. Estou no paraíso, um muito próprio, construído pela minha mente delirante, mas perante os meus cegos olhos o pequeno vislumbre de um autêntico paraíso. As cores são ténues, a bailar entre os verdes e os azuis, desde a suavidade da penugem da folhagem de uma pálida alface, até ao azul negro do profundo do oceano, onde banho o meu corpo, numa tentativa infrutífera para curar as feridas infligidas pela sociedade.
Aquela deliciosa salada de algas verdes e vermelhas como acompanhamento de sumarentas e doces frutas da terra, pintalgada com bagos de romã e salpicada com finos cristais de sal, decoram o meio da manhã, já com o Sol de corpo inteiro a encandear o dia. Está na hora de trabalhar, produzir e criar o fruto do meu sustento, transformar e moldar o que a natureza gratuitamente nos dá num utensílio para o "Homem Merecedor" aproveitar os ciclos naturais do mundo, as ondas, os ventos, as marés, o verdadeiro pulsar incessante do nosso planeta. É um sonho lindo. O corpo já chama por alimento, chegou a hora de cumprir um ritual ancestral, que separa o Homem dos restantes bichos, é hora de fazer fogo. Um ritual repleto de magia, deitando as pinhas e tapando-as com uma espinhosa manta de caruma, cobrindo-as com aromáticos galhos de pinheiro, e para fazer fumeiro alguns de loureiro. Quando o fogo acordar tenho de o cobrir com a negritude do carvão de azevinho, para nele repousar um prateado peixe habilmente escalado. Apenas fica a faltar, para decorar o ramalhete uns tomates, cortados grosseira com a navalha dos mil usos, salpicados com as flores do mar e o aroma forte dos orégão, apanhados de mão cheia, da minha humilde horta. O pão pingado com azeite acaba sempre por servir de prato para tão rico repasto, assim como as mãos serão sempre excelentes talheres. A barra de sabão e a cristalina e refrescante água limpam os últimos despojos deste momento único e memorável.
O Sol está no seu auge, o ar quente corre junto a epiderme, mas as paredes daquela simples habitação miraculosamente permanecem frescas, chegou a hora de repousar o corpo, retemperar o animo e sonhar. Sonhar embalado pelas ondas do mar, dormir com o rosto pousado no regaço das sereias, repousar o corpo batido na espuma das marés. Acordar com o grito das gaivotas e com o aroma do rosmaninho plantado pelas minhas próprias mãos, que cresce desenfreado num velho canteiro junto a janela do quarto. Abrir os olhos e vislumbrar a prata das ondas a dançar no tapete azul escuro do mar, e a entrar porta adentro o dourado brilhante da areia, onde irei pousar os meus grandes pés.
Chegou a hora de ir mendigar ao mar o meu alimento, armado com uma cana grande, maior que o meu corpo, mesmo num intenso espreguiçar, uma fina e transparente seda e um pequeno e retorcido anzol que odeia os meus inadaptados dedos, pois morde-me cada uma das vezes que tento tirar-lhe a minha presa das suas garras. O mar nunca negou-me uma refeição, e por isso serei sempre grato, seja pelos infindáveis peixes que sempre serão abocanhados pelo pequeno o arisco anzol, como pelo memorável e perfumado marisco que sempre floresce junto ás rochas batidas pelo mar.
Devo banhar-me por gratidão e admiração nesta água, para lavar o corpo, mas acima de tudo a minha alma, como forma de obter as graças desta imensidão, que caso queira, em breve irá levar-me no seu galopar. O Sol já vai baixo, e dificilmente existirá momento mais contemplativo que este, criador da mutação das formas, do despertar de todos os sentidos, sublimador de toda a existência. O mar transforma-se num abismo, mas a espuma das ondas parece ser um tapete de pérolas, e a praia o eterno leito onde irei deitar-me no final da minha loucura.
A noite pisca-me o olho, lembrando-se do crepitar do fogo que irá ser tanto para dourar o pescado fresco, como manter a temperatura quando o ar húmido e salgado começar a aconchegar a noite. O sono, vou chamar entre o virar de duas páginas de um livro de um filósofo maldito, ou de um poeta suicida, ou se o espírito o quiser, viajar montado nas palavras romanceadas duma obra de Jack London, ou um outro aventureiro qualquer, e começar minha longa maresia dos sonhos.
Era capaz de viver apenas com o aroma salgado do oceano.
...Já faltam poucos dias...
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